2012 foi um ano lixado, em muitos sentidos: perdeu-se poder de compra, o que restava da confiança dos portugueses nos políticos e, sobretudo, uma certa ingenuidade em relação ao cuidado e uso da coisa pública, e começou-se a discutir se esta se devia ou não manter pública, e tudo quanto tem que ver com um guarda-chuva de garantias a que já estávamos habituados, malgrado estas não serem, de todo, integralmente justas e integralmente difundidas. A verdade é que somos um país pequeno e temos garantias à nossa escala: o ordenado mínimo é o mais mínimo da Europa e tudo quanto é Hospital e Escola, salvo os pontuais casos de sucesso que confirmam os restantes, funciona a três pernas, quando funciona, e dá pouco ao contribuinte, quando é chamado a dar, para além de, na maior parte dos casos, o tratar como um ignorante despesista, porque ele próprio não sabe fazer um diagnóstico diferencial que distinga com radical certeza o ataque cardíaco dos gazes resultantes da comezaina das festas. Somos umas crianças, umas crianças ingratas.
Coisas boas que aconteceram: a sociedade civil espirrou e, mesmo que ainda em fase de compostura de identidade, foi o suficiente para que todo o corpo político português tremesse.
Coisas boas que aconteceram: o meu Gui está mais assertivo e ainda ontem lhe dei (prenda atrasada de Natal) um tablet, a ver se ele começa a esforçar-se mais para ter aquilo que quer (desenhos animados em abundância).
Coisas que me fizeram pensar: o atirador da última grande carnificina americana continua a ser descrito como portador de Asperger, sem que em muitos meios de comunicação se faça o necessário divórcio conceptual entre ser atirador e ser Asperger. Tenho receio que uma coisa destas perigue as iniciativas que são quotidianamente lançadas nos EUA e de que dependemos para obter melhores terapias, resultados de investigação e, last but not least, uma cura.
Coisas sobre as quais ainda penso: cada vez tenho menos tempo para escrever no blogue, ou quero distanciar-me do “Autismo”, o livro, a condição, porque estou cada vez mais pacificado em relação ao meu filho e à ligação que mantemos? Como preparo um lançamento para Maio, de uma obra que nada tem que ver com o autismo, não quererei com este desamor crónico afirmar a minha individualidade de escritor que transcende a produção de qualquer das suas obras, mesmo que estas, como no caso do “Autismo”, lhe tenham saído da pele?
Coisas engraçadas: tenho falado com muitos pais de autistas, graças ao blog, graças ao livro e todos, para além das óbvias diferenças que mantêm, advindas da personalidade e cultura de cada um, estão em fases diversas e distintas no que concerne o “namoro” com o autismo. Há os que já aceitaram e até acham que a reconfiguração de vida foi positiva e outros que estão muito, muito zangados. Eu cada vez estou menos zangado, sem por isso dizer que aceito positivamente o autismo, longe disso. Mas desejo a todos, para este 2013, que alguma da zanga passe.