As sumidades do autismo ou eu sou o melhor da minha rua

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O Guilherme foi diagnosticado pelo Dr. Miguel Palha, do Diferenças/APPTP21, uma reconhecida sumidade que, para além do renome médico na praça, consegue para o seu consultório/centro de desenvolvimento numerosos apoios, tanto monetários como onomásticos, normalmente de pessoas prestigiadas que também ganham por emprestarem nome e apelido a uma causa que mistura tão bem doença e crianças.

O Dr. Miguel Palha, na primeira consulta com o Guilherme, disse à Ana que tudo iria ficar bem, que o rapaz (na altura com dois anos e pouco) estava no ponto mais porreiro da linha do espectro das PEA, querendo com isto dizer que era um caso leve e tendo assegurado à Ana que daqui a um par de anos, com muito trabalho (lá, no centro dele, e em casa, como complemento) o petiz não se ia distinguir dos outros na escola básica ou no infantário. Isto tudo em 15 minutos, que para as eminências pardas do diagnóstico diferencial, dá e sobra para caracterizar o miúdo e mimar os pais com um prognóstico docinho. Felizmente não pude assistir à “consulta”, tive um acidente de carro.

Passados alguns anos sobre este episódio, o Dr. Miguel Palha continua alegremente a debitar do cimo da sua sapiência diagnósticos, prognósticos e permissões para tomar este ou aquele caminho a nível de terapias, intervenções ou dietas. Como o autismo é um guarda-chuva onde cabe quase tudo, a reputação do Dr. Miguel Palha constrói-se abrigada da contradição e do contraditório porque, no final e espremidas todas as opções, o Dr. Miguel Palha ainda nos está a fazer um favor por consultar-nos e espalhar a sua sapiência a um preço tão módico. O Dr. Miguel Palha não tem nada a provar porque no autismo não se pode provar nada: o diagnóstico é comportamental e cada caso é um caso. É tão giro isto que eu próprio já me tenho entretido, de graça, a diagnosticar, ao longe, nos autocarros e centros comerciais, miúdos que aposto terem, em graus diferentes, incidências de sintomas autistas. Tente também, vai ver que distingue sem grande dificuldade um hand flapping de um simples chicotear de braço. Se arranjar um alto patrocínio e tiver vocação terapêutica, ainda se converte no melhor da sua rua e, talvez um dia, numa declinação de Miguel Palha, a espalhar a bênção do diagnóstico aos quatro ventos enquanto forra o colchão.

Se lhe perguntarem, a chorar, o que vai ser da criança, diga-lhe que vai ficar tudo tão bem quanto possível. É a cereja no topo do bolo da especialidade “pediatria do desenvolvimento”. Ao pé disto a astrologia parece-me um ramo do saber competente e adequado.

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16 Respostas to “As sumidades do autismo ou eu sou o melhor da minha rua”

  1. Helena Sabino Says:

    Piada, essas palavras que o dr. miguel Palha disse sobre o guilherme, também eu ouvi para o João. É mesmo um copy -Paste- palavras para quê?

  2. Noris Says:

    já o meu filho, segundo o Dr. Miguel Palha, nem está no espectro. Tem antes uma hiperactividade com défice de atenção e uma perturbação de oposição. E fez questão de deixar claro que não tinha qualquer dúvida no diagnóstico e que eu não me preocupasse com o futuro dele. O M tinha 6 anos e não voltou à consulta. Sabia de antemão que se tratava duma segunda opinião, por isso achei até um desrespeito pelos colegas que conhecem toda a sua história clinica, tanta imprudência. A consulta foi um vê se t’avias e baseou-se no preenchimento dum questionário.
    O meu filho pode ser activo mas não é hiperactivo e não tem, nem nunca teve, défice de atenção.

  3. maria anjos Says:

    No caso do meu filho, na altura com 2 anos e 2 meses, quando saímos da consulta com o Dr. M.P., o meu marido estava tão confuso que só me perguntava: Afinal o que o R. tem é bom ou mau?
    Chegamos a fazer a tal intervanção infalível e, mais engraçado, quando soube de outros métodos, como o ABA, perguntei à técnica que acompanhava o R. o que achava e, logo pronta: o Dr. MP acha que é um horror, etc, etc. Conclusão: Dr. MP veio a ser (não sei se ainda é) consultor do método ABA numa instituição sediada na margem sul do Tejo.

    Abraços.
    Maria Anjos

  4. Pai Says:

    Sinceramente, não sei qual dos três comentários me choca mais. Ou se algum me chega, efectivamente, a chocar, mas sinto que de algum modo, mesmo que não queiramos, estamos na mão destas pessoas cuja especialidade é serem tão inúteis como prejudiciais.

  5. Carla Says:

    Ou meu Deus! Estou desorientada. Tenho consulta marcada neste centro (diferenças) e agora estou indecisa. O CADIn pareceu-me muito comercial, e esta seria a minha segunda opção. Por favor ajudem-me com as vossas experiências.
    Obrigada,
    Carla

    • Pai Says:

      Não conheço o CADin, Carla, trabalha lá uma terapeuta amiga minha que é muito competente, é a única referência que posso dar. Relativamente à consulta, veja que diagnóstico lhe passam e procure essencialmente focar-se em trabalhar os pontos fracos que o seu filho possa ter, independentemente do diagnóstico, a Carla é quem o conhece melhor. Depois informe-se sobre intervenções estruturas (floortime, teacch, aba, etc) e experimente tantas quantas forem necessárias, sem pre-conceitos. O mesmo se aplica à biomédica (dietas). O que não funciona nuns, acaba por funcionar noutros. E tenha calma, veja um filme de vez em quando, passeie à beira-mar, tire algum tempo para si. Ainda agora começou. Não tente fazer tudo de uma vez. Beijinhos.

      • Carla Says:

        Muito obrigada mesmo! Fui ainda hoje visitar o ABC Real, recomendado por uma amiga, gostei do que vi e das explicações; Vou continuar a avaliação no CADin e visitamos no mesmo dia o Centro Diferenças. Depois terei de analisar todas as informações e escolher. só espero fazer a escolha mais acertada para a minha menina. Falaram-me num centro em Verona, (Itália) e outros no Brasil, mas Portugal é o nosso 2º país, aqui sentimo-nos em casa, e sem barreiras linguísticas, talvez a Bárbara se recupere melhor.
        Muito obrigada mais uma vez, é muito bom falar sobre as alternativas com alguém fora das clínicas.

      • Pai Says:

        De nada. O ABC Real é completamente devotado ao ABA. Se for essa a terapia de eleição, é um bom ponto de partida. É caro, no entanto, até porque o ABA é uma terapia que necessita de muitas horas de intervenção.

        Tem ainda o Dr. Pedro Caldeira, na UPI, cuja abordagem é floortime. Vá vendo, lendo, e decida informada e sem esquecer o instinto.

        Beijinhos e tudo de bom para si e para a Bárbara.

      • Carla Says:

        Obrigada. Vou agora mesmo pesquisar esta alternativa.
        Muito obrigada.
        Carla

  6. joana Says:

    porquê optar por intervenções estruturadas? O autimo na américa não é tratado com estrutura, mas com a abertura para a flexibilidade. o modelo teacch é uma fraude.

  7. Sita Turpin Says:

    Vou deixar aqui a minha opinião, uma vez que e diferente. O meu filho mais novo nasceu em 1993, aos 2 anos entrou na fase dos pesadelos, o que costuma acontecer por volta dos 4 anos. A Dra. Manuela Pinéu que era a pediatra dele mandou fazer um electroencefalograma e foi-lhe detectado epilépsia. Ele nunca teve nenhuma crise mas o problema estava lá. Entrou para o jardim de infância aos 3 anos, sempre foi uma criança muito inteligente, começou a andar de moto4 a bateria no dia em que fez 2 anos, começou a andar de bicicleta sem rodinhas aos 3 anos e até já andava e fazia malabirismos nas bicicletas dos irmãos, só que sempre foi muito irrequieto e cansava-se depressa de alguma coisa que estivesse a fazer. Quando entrou para a primária aos 5 anos começou o meu “calvário” todas as semanas eu tinha de ir falar com a professora pq ele não tomava a devida atenção nas aulas e perturbava toda a classe pq arranjava sempre uma desculpa para não ficar mto tempo sentado. Mudou várias vezes de lugar incluindo a secretária da professora. No 2º ano lectivo li num jornal umdocumentário que falava sobre a hiperactividade e revi o comportamento do meu filho naquela página de jornal. Falei com a professora e começamos as 2 a trabalhar com o Nuno mediante a informação jornalistica enquanto eu tentava uma consulta de pedopsiquiatria. Fui chamada à Ajuda para uma triagem onde contei o que vos estou a relatar. Disseram-me para aguardar pela 1ª consulta. Cansei-me de esperar pq passado quase 1 ano nãohavia psicólogos suficientes de modo a que uma enfermeira do serviço me disse que se tivesse possíbilidades era melhor ir ao privado e falou-me do Dr. Pedro Caldeira da Silva no Estoril. Liguei e marquei consulta (2001) paguei 20 contos e as seguintes foram 11 contos cada. Diagnóstico: O Nuno não tem problema nenhum, até é um míudo sobredotado em muitos aspectos. ( levei inclusivé os cadernos da escola e uma nota da professora). As minhas idas à escola mantiveram-se. Em 2003 fiz um curso de Auxiliar de Educação Infantil e no estágio uma colega(psicóloga) falou-me de uma professora que tinha tido na faculdade e que tinha consultório. Fui para lá, o Nuno ía de 15 em 15 dias e ficava cerca de 2 horas no gabinete com a Dra. O problema é que eu precisava de uma avaliação psicológica, precisava saber o que se passava com ele. Obtiva essa resposta depois de ir ao CDI Diferenças. Fiz a 1ª consulta com o Dr. Miguel Palha e paguei os 90.00€. Foi-lhe diagnosticado hiperactividade com déficit de atenção o perturbação de oposição. Começou a tomar Ritalina e a coisa começou a mudar. Ia todas as semanas à psicologa do centro onde eu entrava e falava e o resto da consulta era com a criança. Fizemos vários planos de tratamento que deram alguns frutos. Pagava 35.00€. O meu filho frequentou aquele centro até aos 13 ou 14 anos e aprendi a lidar com ele da maneira correcta, melhorou na escola (só era pior quando se esquecia da medicação). Já fiz pedidos ao Dr. Miguel para ver crianças que não tinham condições para pagar e ele acedeu. O meu neto está a ser seguido em pedopsiquiatria em S. Francisco com um diagnóstico de hiperactividade ligeira e levei-o ao Dr. Miguel em quem confio plenamente e o diagnóstico foi o mesmo. Passados10 anos os 90.00€ da 1ª consulta permanecem coisa que achei estranho visto tudo aumentar de ano para ano.
    Esta é a minha opinião do Dr. e do CDIDiferenças

  8. Vania Says:

    Ainda ontem estive no Diferenças com o meu filho, primeira consulta com o Dr. Miguel Palha. Paguei extamente os mesmos 90€. Fiquei com uma ideia muito positiva dele, muito pragmático, muito tranquilo. Cada experiência é uma experiência…

  9. SONY Says:

    Não deixei de ficar indiferente aos vossos posts , antes demais vou-me apresentar …
    Sou mae de uma crianca com espectro do autismo de 6 anos, e neste momento residente no estrangeiro. O meu filho foi diagnosticado aos 2 anos e meio, e como todos vos, aceitar o diagnostico leva o seu tempo para perceber do que se trata, o que fazer para os compreendrer…
    Vou abreviar a passagem pelos medicos, pediatras , infantario e ultimamente escola ( onde aqui nao temos a sorte de ter a escola inclusiva como em portugal, nem a pagar )…etc… etc..
    No fim disto tudo entre charlatões, sabichoes e palestras multiplas chegamos a conclusão que tinhamos que meter maos à obra ….
    Por onde começar, fomos consultar um website oficial onde os vàrios métodos existentes e provados cientificamente para o autismo ( isto para evitar méthodos da banha da cobra onde te prometem mundos e fundos , como coisas sobrerealistas) . No final, o meu filho nao falava aos 5 anos , apenas babejava umas coisitas que originava logo birras frustrantes por falta de comunicação interactiva. Começamos pelo Pecs no infantario e em casa, as images ajudam na comunicação mutua , e ao mesmo tempo sabiamos o que ele exprimia e começávamos a introduzir vocabulário. Depois, e mesmo assim tínhamos crises de comportamentos, por causa de hábitos , maneira de vêr, etc (ex: o caminho por onde ele queria ir para a escola , ou outro sitio qualquer, tendo que fazer uma paragem num sitio distinto, com caprichos, …. potência 18 ! Anedota : lembro-me ainda quando tinta que o levar tipo saco de batatas pela estação do métro , as pessoas a olharem , elle a gritar porque queria ir a uma loja de peixes , sempre. ). Ora bem , se o mal e comportamento, por onde poderia atacar ? O meu marido formou-se como Technico ABA e começamos a aplicar em casa , visto que o ABA é Análise aplicada do comportamento, é isso mesmo !!! Ao principio ele achou esquisito a mudança, porque as birras nao davam resultado. Automaticamente o comportamento inadequado começou a baixar , e as birras começaram a baixar. Chegamos entao ao ponto onde podia ir de métro tranquilamente com ele , passar a frente da loja dos peixes que ele tanto adora e dizer-lh , não, fica para depois e ele aceitar sem fazer as tais birras nucleares…. ( é so um dos exemplos )…. para a fala foi igual , em vez de apontar e gritar , etc … obrigamos a pouco e pouco a dizer uma palavra ou som, uma a seguir a outra para adquirir o que queria ( sobretudo no armário das guloseimas ou frigorifico, fora de hora), hoje fala , compreendemo-nos, e tem interações sociais com as outras crianças. Bem, no meio disto tudo, o nosso filho fala , podemos comunicar , as birras baixaram , porém não deixa de ser uma criança de 6 anos com as suas birras como qualquer um da sua idade, mas….. hà luz no fim do tal túnel escuro, e o que fizemos deu resultado.
    Proxima étapa , ESCOLA, là està aqui um problema que deixamos sempre pra mais tarde, visto que o facto principal para nos seria que ele consiga comunicar e nos percebe-lo…., no entanto, na escola , os seus hábitos tipo …( flapping e certas estereotipias não eram socialmente aceitáveis ), …. mais uma vez, o que é que podemos fazer para que ele perceba que 2 + 2 = 4 , sem crises ? Andamos a procura, e a técnica que formou o meu marido no método ABA informou-nos de outro método, jà muito antigo chamado Montessori, que data desde 1907 (http://fr.wikipedia.org/wiki/Maria_Montessori )e tal …, onde é utilizado material da época do nossos trisavós, material de madeira , lúdico , onde podíamos brincar com ele e ensinar sem que ele se aperceba ( até jà conhece o sistema solar completo + alguns exoplanetas e constelações ….. 🙂 .. )
    Estas crianças tem todos um potencial escondido, fenomenal , sejam elas crianças autistas ligeiras ou mais sevaras, mas que so estão a espera de ser reveladas. Infelizmente, para ser honesta , certos autistas severos e com deficiência cognitiva não poderão chegar até ai , mas pelo menos terão certamente algum meio de poder comunicar …. ( todos os seres animais racionais ou não, têm essa faculdade!). O facto de não falar, não é por isso que não haja comunicação , pode haver a escrita, imagens, linguagem gestual, etc…o importante antes de tudo é conseguir haver comunicação !
    Uma coisa que me interpela em muitos posts de alguns profissionais e outros é tratarem do autismo como uma doença …. NAO E !…..é um síndroma que faz com que seja uma forma diferente de ver o mundo e uma percepção diferente de interactividade , e ….. serà mesmo que os tais autistas sejam mesmo ELES os autistas? HA TANTOS BURROS MANDANDO EM PESSOAS DE INTELIGENCIA QUE FICO PENSANDO SE A BURRICE E UMA CIENCIA ( Fernando Pessoa )..
    Por isso digo mais uma vez , PAIS , sejam orgulhosos dos vossos filhos, porque é uma dadiva, e uma grande lição de humanidade ….Tao grande a humanidade deles como aqueles que os acompanham ….Nos ,continuamos o nosso caminho de obstáculos à integração legitima. Muita paciência , dedicação , não discriminem os métodos sem os conhecerem , não é porque se é DR e que se lê um livro sobre autismo que se pode considerar , O grande DR, especialista XPTO e tal … é preciso muita formação, pratica … e não se fechar em opiniões de AB e C ….
    Ah, amanha, la vamos nos para mais uma formação ( Autismo e deporto ) porque queremos que o nosso filho compreenda a importância do desporto e como ensina-lo a fazê-lo…. é verdade, que com isto tudo, andamos com um carro a cair de maduro , as economias foram pro c****** , quer dizer 🙂 … foi tudo pra ele :)) .. porque o nosso filho é o nosso maior investimento e a prolongação de nos …..
    Com isto foi um desabafo e desejo a todos uma boa noite 🙂 ….

  10. Maria do Céu Campos Says:

    Boa noite, Não concordo com o que dizem do Drº Miguel Palha, tenho uma filha que foi seguida no consultório dela, dos 7 anos aos 14.
    Na altura foi diagnosticado Défice de atenção e dislexia.
    Grande ajuda e orientação que o Dr. Miguel nos deu, graças ao diagnostico dele e a medicação até aos 14 anos a milha filha concluiu o 12º ano sem nunca reprovado, com muita ajuda minha e persistência dela e co a colaboração dos professores, la foi seguindo sempre em frente.
    O meu obrigado ao drº Miguel,


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